Diário de Bordo - dia 28 e 29 de julho
Dias 28 e 29
de julho
Saída: Irecê
(BA)
Destino:
Sousa (PB)
Ocorrências:
no segundo dia de retorno para casa e décimo quinto na estrada, mais emoções.
Começando o dia sem grana e sem caixas eletrônicos 24h em Irecê. Contornamos a
situação pagando combustível cartão de débito e então seguimos para Sousa com
parada prevista em Petrolina (PE) para dormir.
Tínhamos cerca de 400 km pela frente com
passagens pelos municípios de Morro do Chapéu e Jacobina (BA). Localizados na
área da Chapada Diamantina, estes municípios mostraram um contraste de tudo que
tínhamos já visto pelo Nordeste ao longo desses 15 dias: clima frio, muito
verde e grandes serras rodeiam as cidades e margeiam as estradas. Por sinal as
cidades de Barra, Morro do Chapéu, Jacobina e Saúde são encantadoras, com seus
casarões coloniais e ruas limpas com muitas árvores e flores. Lógico que
aproveitamos esses momentos para fotografar e utilizar mais os recursos que a
câmera GoPro oferece.
Sim, para
aguentarmos tanta estrada de Avelino Lopes até aqui, trouxemos conosco uma
rapadura com coco, regalo da tia Morena (do James). Mas não contávamos que um
simples alimento fosse assassino. É que
Alécio e eu quase fomos mutilados quando paramos para comer a tal rapadura. Eu
disse para o Alécio que cortamos nossos dedos por causa do canivete. Entretanto
nosso companheiro afirmou: - Não pode
ser, pois meu canivete é suíço. Comprei e Pedro Juan Caballero. A culpa é da
rapadura!! E agora, quando oferecemos rapadura para o outro sempre
perguntamos: com ou sem dedo?? Pois é amigos, quem manda ser rapadureiro......
Dormimos em
Petrolina e pela manhã do último dia de expedição fizemos umas imagens na ponte que divide as cidades de
Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) e mais um encontro nosso com o Velho Chico. Logo depois partimos em direção a Sousa. Seriam
mais 450 km pata enfrentar, porém já nos primeiros 50 quilômetros o Nivaldo
apresentou problemas no radiador, esquentando o motor. Realizamos uns reparos
que não surtindo efeito, fomos obrigados a parar em Cabrobró (PE). Lá, por
sorte e providência divina, encontramos uma oficina especializada em radiadores
do Sr. Antônio, cerca de 75 anos, bem baixinho e com traços orientais. Mais
parecia com o Sr. Miag (é assim que se escreve??), do Karatê Kid. Apenas após
2h de conserto saímos daquela cidade. Já eram mais de quatro da tarde.
Daí pra frente
foi mais rápida a viagem, estávamos ansiosos para rever parentes e amigos,
afinal era o décimo sexto dia de viagem. Pensamos em chegar em grande estilo,
buzinando, encontrando os amigos no Centro Cultural de Sousa, comer uma pizza.
Mas era domingo, 21h e estávamos exaustos. Nossa chegada foi mesmo de mansinho,
quase parando, sem ninguém ver.... apenas
como saímos: somente os três aventureiros de sangue O, agradecendo uns aos
outros pelo rico e inesquecível momento de conhecer os rincões do Nordeste, os samurais
militantes da cultura e um povo carente de atenção, conhecimento e oportunidades, mas alegre e hospitaleiro.
Diário de Bordo - 26 e 27 de julho
Dias 26 e 27
de julho
Ainda em
Ibotirama (BA)
Destino:
Sousa (PB)
Ocorrências:
mal nos deitamos para descansarmos da difícil viagem e lá estávamos, às 7h30 da
manhã, bem acordados para registrarmos o quarto projeto de nossa expedição.
Ibotirama,
município de quase 22 mil habitantes fica no centro-oeste baiano, às margens do
Rio São Francisco. Lá visitamos a Fundação de Desenvolvimento Integrado do São
Francisco, a Fundifran, que atua há 40 anos para o desenvolvimento sustentável
de agricultores familiares da região, trabalhando também com projetos
culturais, dentre eles a produção do livro Antologia dos Cordéis.
Tínhamos a
proposta de seguir até a Serra do Ramalho (BA), 200km ao Sul, para registramos
o evento de lançamento do livro, mas o pouco tempo, a grana curta e as condições do Nivaldo nos
impediram.
Mesmo assim
foi um dia bastante produtivo. Filmamos poetas e crianças recitando às
margens do Rio São Francisco, ponto de leitura em assentamento rural, grupo
de teatro surgido a partir de ações de um ponto de cultura. Foi incrível a
oportunidade de conversar com um pessoas tão envolvidas em projetos culturais,
formando plateias e dando oportunidades de cursos e oficinas artísticas
para crianças e adolescentes.
Já no dia 27
de julho pela manhã, aproveitamos para realizar mais ajustes no Nivaldo. Na volta para Sousa, não resistimos e fomos tomar um banho no Velho Chico
para nos refrescarmos do forte calor. No primeiro dia de estrada no retorno
para casa fomos surpreendidos ao passar por Barra, cidadezinha charmosa,
bucólica, de casarões antigos e que também é agraciada com as águas do São
Francisco. Saindo de lá, para continuar na estrada, precisávamos atravessar de
balsa o Velho Chico e, mas uma vez, colhemos imagens e desfrutamos de momentos
inesquecíveis.
Encerramos o
dia exaustos já no município de Irecê (BA).
Diário de Bordo - 24 e 25 de julho
Dias 24 e 25
de julho
Ainda em
Avelino Lopes (PI)
Destino:
Ibotirama (BA)
Ocorrências: a terça-feira foi o dia de descansarmos de
projetos e estradas. Mas tínhamos muitos trabalhos, dentre eles, lavarmos
nossas roupas, atualizarmos textos e fotos que iriam para o Blog e darmos um
bom banho no Nivaldo.
James aproveitou para rever e matar saudades dos parentes. E
haja parente!! É que os Gama são donos da cidade. Todo mundo é primo ou tio do James. Todas as ruas tem sobrenome Gama. E o comércio também: Mercearia
Gama, Farmácia Gama, Bar do Gama, Cerâmica Gama....Vocês então já adivinharam
qual o time que eles torcem??? Pois é, Vasco dos Gama. Só o James é que é um
louco corintiano...
Enquanto isso, Alécio e eu andávamos pelas ruas da cidade
buscando, pelo menos, um sinal de fumaça para nos comunicarmos com nossos
parentes e amigos.
Na quarta, amanhecemos levando mais uma vez, o Nivaldo para
manutenção. Foram realizados serviços de soldas que nos deixaram mais tranquilos.
Após o almoço partiríamos para Ibotirama (BA) preocupados porque enfrentaríamos
mais 120 km de piçarra e costela de vaca, metade do percursso total que
faríamos naquela tarde. Mas nos cinco primeiros quilômetros uma outra peça, idêntica a que consertamos
pela manhã, quebrou. Atrasamos e nossa saída de Avelino aconteceu às 17h. Com
metade do trajeto de estrada ruim, parada para jantar e abastecimentos, nosso
tempo de viagem alongou, o que nos fez chegar ao nosso destino às 3h do dia
26\07.
Diário de Bordo - 23 de julho
Dia 23 de
julho
Saída:
Parque Nacional Serra das Confusões (Caracol – PI)
Destino:
Avelino Lopes (PI)
Ocorrências:
A ida à Avelino Lopes não foi para visitarmos projetos sócio-culturais, mas porque é a terra natal do James e ele não
passara por ali há 14 anos.
O trajeto
foi o mais cansativo de todos. Do Parque até lá foram 130 km de estrada de
chão, que alternavam entre piçarra, areia fofa, costelas de vacas, buracos e
muita, mas muita poeira. Era um pó fino e ficamos imundos. Além disso, calor de
“rachar” e Nivaldo sem aguentar.... A buraqueira era tanta que peças do carro
acopladas ao assoalho, como estribos e coxim de câmbio foram desprendendo ao
longo do percusso, que findou em 11h de estrada.
Ao longo do
curto, mas demorado caminho tivemos alegrias e tristezas. Passando pelo
município de Guaribas (PI), visitamos o Espaço Nordeste, construído há três
anos numa parceria do Banco do Nordeste e Instituto Nordeste Cidadania. Fomos
bem recebidos pela equipe, que é responsável por ser o único local a realizar
eventos sócio-culturais naquela região. Ficamos ali por cerca de duas horas
para reparos no Nivaldo.
A tristeza foi
pela extrema pobreza e seca que castiga não só Guaribas, mas toda região.
Animais mortos, famílias nas portas das casas sem ter o que fazer. Paramos numa
delas para pedir informação. Como quem pedia socorro e não tinha a quem
recorrer uma senhora completa, após responder ao nosso questionamento: - Aqui não chove há meses, não temos mais água
e tá tudo morrendo de sede e fome. Tire
aí uma foto.
Antes de
chegarmos ao Morro Cabeça no Tempo - Pasmem! É um município do Piauí e aparentemente,
mais pobre e carente que já passamos – brincávamos com o nome daquele lugar,
dizendo que ali encontraríamos com o Mestre dos Magos e desvendaríamos o
caminho de volta para casa (kkkkk). Mas ao chegarmos ali queríamos mesmo é
pedir a Deus que colocassem pessoas capacitadas para mudar a realidade de
pobreza e sofrimento. Morro cabeça no Tempo parecia mais Morro PARADA no tempo.
Ao chegar a
Avelino Lopes James esperava rever sua mãe, que veio de São Paulo e que não via
há seis anos. Mas soubemos que por motivo de saúde ela não apareceu, seguindo
para Teresina para se tratar. Agora é esperar esse encontro para Sousa mesmo.
Diário de Bordo - 22 de julho
Dia 22 de
julho
Destino:
Ainda no Parque Nacional Serra das Confusões (Caracol – PI)
Ocorrências:
Ao chegarmos ao parque ainda no dia 21 de julho um dos guardas ambientais nos informou
de um ponto de visitação lindo, uma pedra alta com um desfiladeiro onde
podíamos ver as estrelas à noite e observar, de dia, a toca das onças do outro
lado. Fomos ainda à noite, às 21h observar o local juntamente com o Alcebíades,
apesar do medo de cobras e das onças.
O Alécio tirou algumas fotos e decidimos
voltar àquele local às 4h da manhã e ver o dia amanhecer. O Parque Nacional da
Serra das Confusões fica à 18km da sede do município de Caracol. Local sem
telefone, mas por sorte nossa, com energia elétrica e água na sede. Montamos
nossa barraca, mas observamos escorpiões caminhando pelo estacionamento do
parque. Eu mesmo acabei dormindo numa rede do alpendre da sede.
Durante a noite o frio nos castigou e mal
dormimos. Às 4h fomos mais uma vez enfrentar uma trilha de mais de 1 km na
escuridão da madrugada fria. Naquele amanhecer registramos algumas imagens,
contemplando a natureza daquele lugar: céu estrelado e sol aparecendo, macacos
e mocós correndo pela floresta, sons de pássaros, o desfiladeiro de altura de
um prédio de 20 andares. No silêncio daquele local que parecia intocável pelo
homem fiz uma oração em agradecimento a Deus por estarmos neste mundo, com toda
a natureza ao nosso favor, e por ter me dado tamanha oportunidade de conhecer
locais como aquele.
Ao voltarmos
para a sede, comemos e fomos a outro ponto de visitação. Ali, já dentro da Serra das Confusões,
Alécio, os guardas ambientais e eu andamos cerca de 6km, ida e volta, descendo
e subindo lajedos imensos, caminhando por grutas com areia branquinha, que nem
de praia, e clima úmido, bem mais ameno do que os 35 graus registrados lá em
cima no caminho de volta.
No final da
tarde daquele domingo Alécio decidiu ir sozinho mais uma vez ao desfiladeiro
para tirar fotos. Mais de três horas após sua saída, ficamos preocupados.
Seguimos a trilha para buscá-lo, já que o Talk
about não funcionava. Mas sem estresse: o Alécio já estava voltando por
ali, despreocupado e com belíssimas imagens em sua Nikon.
Diário de Bordo - 21 de julho
Dia 21 de julho
Saída: Parque Nacional Serra da Capivara (Cel. José Dias – PI)
Destino: Parque Nacional Serra das Confusões (Caracol – PI)
Ocorrências: No oitavo dia da Expedição Nordeste Central acordamos logo cedo para decidirmos se ficaríamos mais um dia em Coronel José Dias ou partiríamos com destino ao município de Caracol (PI) para pernoitarmos ali e depois seguirmos para Avelino Lopes (PI). Várias questões estavam em pauta para a decisão: a primeira é que tínhamos vontade de visitarmos outros sítios arqueológicos na Serra da Capivara, mas onde estávamos tínhamos dificuldades de comunicação (telefone e Internet). Outro fator é que a grana estava acabando e por fim, o Nivaldo precisara de um reparo que levaria algumas horas. Decidimos então consertar imediatamente o Nivaldo e partirmos para Caracol, com parada em São Raimundo Nonato (PI).
Saímos no final da manhã e chegando à São Raimundo não ficamos sem dinheiro pois os caixas eletrônicos do Banco do Nordeste não funcionam no fim de semana e os do Banco do Brasil dali não estavam no sistema de compartilhamento acordado pelas duas instituições bancárias. Sorte que o Alécio tinha algum para despesas mais urgentes. Mesmo assim recorri por telefone ao meu irmão para que ele depositasse uma quantia numa conta da Caixa que tenho e que não movimentava há algum tempo.
Almoçamos em São Raimundo e vistamos também o Museu do Homem Americano. A visita àquele espaço foi uma espécie de “complemento” ao que vimos no dia anterior no Parque Nacional da Serra da Capivara. Fantástico.
No início da noite chegamos à Caracol e fomos até a casa do funcionário do Instituto Chico Mendes e chefe do Parque Nacional Serra das Confusões, o Matinha, e solicitamos autorização para acamparmos no parque. Rapidamente fomos atendidos e seguimos para lá. Quer saber mais sobre o restante dessa aventura na Serra das Confusões? Então não deixem de acessar amanhã o nosso blog.
Diário de Bordo - 20 de julho
Dia 20 de
julho
Local:
Parque Nacional Serra da Capivara (Cel. José Dias – PI)
Ocorrências:
Após uma noite merecida de sono começamos os trabalhos às 9h registrando
imagens de uma oficina do Projeto Arte na Serra, que visa proporcionar a
crianças e adolescentes do município de Coronel José Dias, a oportunidade de
conhecer e preservar a nossa história, os vestígios das populações mais antigas
da que habitaram na região e o Parque Nacional Serra da Capivara.
Também pela
manhã visitamos um dos mais antigos sítios arqueológicos do parque. Soubemos
ali que alguns pequeninos que participaram da oficina e também foram conosco,
nunca haviam visitado o parque, apesar de morarem ali vizinho. No caminho dos Serrotes
Calcários das Bastianas imagens belíssimas da estrada de chão, com muita poeira
e vegetação caatinga que fechavam no alto lembrando um túnel. Túnel que nos levava aos
primórdios de nossa história.
À tarde mais
emoção e imagens surpreendentes no circuito do Boqueirão da Pedra Furada, com
pausa para fotos num dos cartões postais mais famosos do local: a Pedra Furada,
além de mais história e das espetaculares inscrições rupestres. Ficamos
impressionados com a estrutura e organização do parque, com várias bases ao
longo dos 214 km de extensão, nas quais podemos encontrar museus, lanchonetes e
banheiros.
No fim do
dia, um bom papo com o Major, senhor de 78 anos que nos hospedou em sua casa e,
assim com em Campos Sales, rimos à bessa com os jingles das campanhas
políticas daquela cidade.
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